O estudo liderado pelo professor Lindoso foi publicado no fim do mês de julho pelo periódico britânico Cretaceous Research. O trabalho descreve a segunda espécie de dinossauros descoberta no Maranhão – a primeira, o Amazonsaurus maranhensis, foi identificada em 2003 a partir de fósseis retirados das margens do rio Itapecuru. Tanto o Amazonsaurus quanto o Itapeuasaurus são saurópodes, tipos de dinossauros herbívoros e quadrúpedes caracterizados por pescoço e cauda bastante compridos. As duas espécies com identidade maranhense pertencem, entretanto, a um grupo de saurópodes caracterizado pelo pescoço relativamente mais curto, os Rebbachisauridae.
“Diferentemente dos gigantes saurópodes comedores de folhas pesando quase 100 toneladas, esta espécie era modesta, não excedendo os dez metros de comprimento e pesando entre cinco e sete toneladas”, explica Lindoso. Segundo o pesquisador, trata-se de um animal raríssimo. Possuía o pescoço mais curto que a maioria dos parentes próximos e se alimentava provavelmente de plantas arbustivas e rasteiras. Outra característica marcante eram os longos espinhos ósseos no dorso, formando uma longa corcova parecida com a dos camelos.
As evidências indicam que esses animais habitaram o Nordeste do Brasil no período Cretáceo, tendo o Itapeuasaurus vivido cerca de 96 milhões de anos atrás. A descoberta da nova espécie só foi possível graças a um grupo de moradores locais que integram um grupo de estudos intitulado “Hispedabiotec” e acharam o primeiro fóssil do animal na praia de Itapeua. Eles comunicaram o fato ao Centro de Pesquisa em História Natural e Arqueologia do Maranhão (CPHNAMA), motivando uma expedição paleontológica que teve duração de um mês. O esqueleto recuperado consiste principalmente em vértebras dorsais e caudais.
Segundo um dos colaboradores da pesquisa, o paleontólogo e professor do departamento de Biologia da UFMA, Manuel Alfredo Medeiros, essas não foram as únicas ocorrências de indícios fósseis recuperados no Maranhão. “Podem-se distinguir pelo menos nove formas de dinossauros diferentes já encontradas no registro paleontológico do território maranhense”, revela.
Contribuição a nível global
A identificação do Itapeuasaurus também representa o reconhecimento da praia de Itapeua como nova localidade fossilífera pertencente à Formação Alcântara, que ocorre descontinuamente em falésias litorâneas do norte maranhense e aflora principalmente na Ilha do Cajual. No fim do século XX, esse sítio foi sistematicamente explorado por paleontólogos e atualmente é considerado a principal fonte de conhecimento sobre o Cretáceo médio continental no Brasil. “A descoberta em Itapeua aumenta o número de sítios fossilíferos no Maranhão potencialmente relevantes ao estudo de dinossauros”, destaca Rafael Lindoso.
O professor pontua ainda que, desde a década de 1940, o registro fóssil maranhense tem corroborado de forma inquestionável a Teoria da Tectônica de Placas. Mas, devido ao estado muito fragmentário dos fósseis da Ilha do Cajual, pouca coisa podia ser dita além de que a América do Sul e África um dia compunham parte de um supercontinente chamado Gondwana. “Informações adicionais trazidas com a descoberta de Itapeuasaurus parecem corroborar cada vez mais a hipótese da existência de uma antiga rota migratória proveniente da Europa, passando pelo norte da África e alcançando então o norte da América do Sul em algum momento durante o Cretáceo inicial”, comenta.
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