É preciso manter a floresta em pé. Um dos caminhos que as comunidades tradicionais do Médio Mearim, na pré-amazônia maranhense, traçou é o manejo florestal sustentável dos babaçuais. Com a assessoria técnica da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA) e apoio do Fundo Amazônia, está sendo elaborado um Plano de Manejo Florestal Sustentável de Produto Não Madeireiro. O plano é um documento técnico que estabelece o zoneamento e as normas que devem orientar o uso da terra e o manejo dos recursos naturais.
Desenvolvido de forma participativa com as famílias agroextrativistas de Lago do Junco, a elaboração do plano tem por objetivo o manejo das áreas de ocorrência da palmeira babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng), visando à conservação desta espécie da sociobiodiversidade aliada a outras essências florestais de forma sustentável. Também está sendo elaborado um manual de boas práticas de manejo nos babaçuais para compartilhar o conhecimento desenvolvido com outras comunidades e parceiros.
A área do plano de manejo abrange mais de 10.000 hectares, envolvendo 28 comunidades tradicionais do município de Lago do Junco. No entanto, a ASSEMA pretende ampliar esse trabalho, desenvolvendo o manejo florestal sustentável em toda área de atuação da Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco (COPPALJ) e da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues (AMTR). Com a ampliação da área do plano de manejo, famílias de 14 comunidades de Lago dos Rodrigues e de 4 comunidades de Bom Lugar serão envolvidas nas ações do manejo florestal sustentável em áreas de ocorrência do babaçu.
“O Plano de Manejo, bem como o Manual de Boas Práticas, visa orientar o manejo no sentido de incentivar boas práticas no extrativismo do babaçu e integrá-las às práticas de manejo de outros recursos naturais disponíveis”, explica o assessor técnico da ASSEMA, Luiz Antônio Gusmão.
As famílias realizam o extrativismo do coco babaçu, principalmente, nas áreas de pastagem, nas quais a palmeira se desenvolve de forma espontânea e consorciada com alguma espécie de capim cultivada pelo/a proprietário/a da terra. Após a coleta do fruto, as famílias quebram o coco para extrair as amêndoas, que são comercializadas em pequenos estabelecimentos comerciais construídos e gerenciados pela COPPALJ, denominados de “cantina”.
De acordo com o levantamento, a COPPALJ adquire as amêndoas de coco babaçu de aproximadamente 950 fornecedores/as, entre cooperados/as e não cooperados/as, tendo as quebradeiras de coco babaçu como as grandes protagonistas da atividade extrativista. Todo volume de amêndoas armazenado temporariamente nas cantinas é transportado até a unidade de extração de óleo vegetal da cooperativa, localizada na sede do município de Lago do Junco. O óleo de babaçu é orgânico, certificado pelo Instituto Biodinâmico (IBD), e comercializado tanto nos mercados nacional e internacional, para indústrias de cosméticos.
Dentre as normas a serem inseridas no Plano de Manejo e recomendadas pelo Manual de Boas Práticas estão recomendações quanto à densidade ideal de palmeiras a ser mantida em pastagens e outras paisagens, limite anual de corte de palhas/folhas, controle de uma planta conhecida popularmente como “traca” e o desincentivo ao corte de cachos de coco em produção. Tais recomendações estão sendo definidas a partir de diversos encontros realizados com as comunidades tradicionais extrativistas, promovidos pela ASSEMA, juntamente com a COPPALJ e a AMTR.
A ASSEMA também está mapeando todas as trilhas e as áreas de coleta do coco babaçu com apoio das famílias agroextrativistas. Nesse trabalho, estão sendo utilizadas algumas geotecnologias, consideradas ferramentas auxiliares na condução do planejamento da atividade florestal. Este trabalho de mapeamento, também apoiado pela Embrapa e Universidade Federal do Pará, inclui a identificação dos limites de todos os estabelecimentos rurais na área de atuação da COPPALJ, e o uso de imagens de satélite para classificação do uso e cobertura da terra nesta área. A integração destes produtos permitirá analisar comparativamente a situação das florestas de babaçu, conforme o setor, ou por tamanho das propriedades. Portanto, o manejo florestal sustentável visa a defesa e a conservação das florestas e está em consonância com as estratégias da ASSEMA e organizações parceiras de promover o agroextrativismo sustentável, seguindo os princípios da agroecologia e da economia solidária.
No âmbito do plano de manejo, com apoio da Embrapa foram instaladas quatro parcelas permanentes, com dimensões de 40 x 40 metros, em áreas de reserva florestal de comunidades distintas, para monitorar o crescimento da floresta conservada pela população local. Também, foi realizado o inventário florestal, no início da última safra de coco babaçu, em 50 unidades amostrais, com dimensões de 50 x 50 metros, para levantar informações sobre a estrutura (estágios de desenvolvimento do babaçu) e produtividade dos babaçuais.
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